Sob a visão psicanalítica, a dificuldade em dizer “não” raramente é apenas uma questão de “fraqueza” diante do outro.
Trata-se de algo mais interno, e os motivos são muito particulares — como o desejo de agradar, de ser amado, de manter um vínculo, ou o medo da perda, da rejeição, da culpa ou de outro afeto que ameaça o eu.
A pessoa está preservando algo de si, mesmo que se viole — pode ser um lugar de reconhecimento, de amor ou de pertencimento.
A força que a domina é muito mais interna do que externa.
Poder diferenciar-se do outro sem se sentir mobilizado pelo sentimento de perda do amor deste é uma das tarefas mais complexas da constituição psíquica.
Dizer “não”, quando preciso, é um ato de separação — e separar-se implica reconhecer-se como sujeito autônomo, com desejo próprio, diferente do desejo do outro.
Assim, não é o outro que me impede de dizer “não”.
Sou eu quem não suporta o que esse “não” despertaria em mim.
É importante compreender também que dizer “não” ao outro não significa rejeitá-lo, mas sim reconhecer-se como sujeito do próprio desejo.
Quando a pessoa não consegue dizer “não” ao outro, estabelece com ele um pacto silencioso:
“Eu te dou o que queres, e tu pensas que a escolha é tua.”
Por isso, a ideia de que a pessoa que não diz “não” é vítima do outro se enfraquece.
Na verdade, há uma submissão aparente sustentada por uma cumplicidade inconsciente.
Nesse acordo mudo, não há apenas submissão — há também desejo.
Uma parte de si precisa desse vínculo,
dessa ilusão de harmonia.
Texto de autoria de Rosângela Martins - Todos os direitos reservados
Psicóloga Porto Alegre
CRP 07/05917